A Chegada dos Ingleses e a Colonização do Norte do Paraná.

Mapa-Norte-Paraná

O Norte do Paraná no início do século XX

No começo do século XX, o Norte do Paraná era uma região praticamente intocada. Imensas áreas de mata atlântica densa cobriam o território situado entre os rios Tibagi, Ivaí e Paranapanema.

O solo roxo, de elevada fertilidade natural, já era conhecido pelos especialistas da época como uma das terras mais produtivas do Brasil.

Esse potencial despertava ambição em empresários, colonos e políticos, que enxergavam na região a possibilidade de criação de uma nova fronteira agrícola. No entanto, faltava um projeto de colonização organizado, capaz de transformar a floresta em cidades, lavouras e infraestrutura.

A chegada dos ingleses ao Paraná

Em 1924, um grupo de empresários britânicos, chefiados por Lord Lovat, desembarcou no Paraná. A visita não era casual: os ingleses já possuíam experiência em empreendimentos colonizatórios em outras partes do mundo, e estavam atentos às oportunidades abertas no Brasil.

Ao explorarem o território, ficaram impressionados com a fertilidade do solo e com a amplitude da região ainda pouco ocupada. Rapidamente, decidiram investir.

Em negociação com o governo do Estado do Paraná, adquiriram 500 mil alqueires de terras — um território imenso, que mudaria o destino de toda a região norte do estado.

Fundação da Companhia de Terras Norte do Paraná

Entre 1925 e 1927, nasceu oficialmente a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). O principal acionista era a Paraná Plantations Ltda, empresa sediada em Londres, que passou a deter o controle estratégico das terras adquiridas.

A CTNP não surgiu para promover uma ocupação espontânea, como vinha acontecendo em outras áreas agrícolas do Brasil. Pelo contrário, tratava-se de um empreendimento planejado, inspirado no modelo inglês de parcelamento de terras rurais.

O modelo inglês de colonização

O método consistia em dividir grandes áreas em lotes rurais previamente demarcados, que seriam vendidos a colonos vindos de diferentes partes do Brasil e também a imigrantes estrangeiros. O objetivo era atrair agricultores que trouxessem capital e mão de obra para explorar as terras férteis.

Dessa forma, a colonização do Norte do Paraná ganhou um caráter organizado e sistemático, combinando interesses empresariais britânicos com a demanda de milhares de famílias em busca de novas oportunidades.

A importância da ferrovia na colonização

Um dos pontos centrais para o sucesso do projeto era a infraestrutura de transporte. Não bastava vender lotes de terra: era preciso garantir acesso rápido para que os colonos chegassem e para que a produção agrícola fosse escoada.

A compra da Companhia Ferroviária São Paulo–Paraná

Em 1928, a Paraná Plantations adquiriu a Companhia Ferroviária São Paulo–Paraná, que já possuía um trecho em operação entre Ourinhos e Cambará. Esse foi o marco inicial de uma grande expansão ferroviária.

  • Em 1930, a ferrovia alcançou Cornélio Procópio.
  • Em 1932, chegou a Jataizinho.
  • Em 1935, atingiu Londrina, a futura capital econômica do Norte do Paraná.
  • Em 1942, expandiu até Apucarana, consolidando o processo de ocupação.

Essa ferrovia se tornou a espinha dorsal da colonização inglesa no Paraná, permitindo tanto a chegada de milhares de colonos quanto o transporte do café e de outros produtos agrícolas.

O nascimento das cidades planejadas

Outro aspecto essencial da colonização inglesa foi a criação de cidades planejadas ao longo da ferrovia. A cada 10 a 15 quilômetros, um novo núcleo urbano era fundado, servindo como ponto de apoio para colonos e comerciantes.

Nomes indígenas e influência europeia

Muitas dessas cidades receberam nomes de origem indígena, como Apucarana, Arapongas, Cambé, Ibiporã, Jandaia, Tapejara e Umuarama, preservando a memória da terra e de seus povos originários.

Mas a influência europeia também deixou marcas. Londrina foi batizada em homenagem à capital inglesa, simbolizando uma “pequena Londres” no interior do Paraná. Rolândia refletia a presença de imigrantes alemães, enquanto Lovat (atual Mandaguari) lembrava o líder britânico que chefiou o empreendimento.

Mais tarde, outras cidades importantes surgiram sob o mesmo modelo de loteamento, como Maringá, Cianorte, Sarandi e Umuarama, consolidando o crescimento urbano planejado da região.

O legado da colonização inglesa

O impacto da Companhia de Terras Norte do Paraná e da Paraná Plantations foi profundo. Não se limitou à venda de terras: moldou o perfil econômico, social e cultural do Norte do Paraná.

A chegada de milhares de colonos, vindos de várias regiões do Brasil, formou uma sociedade marcada pela diversidade cultural.

O café prosperou nas terras roxas, tornando-se o motor econômico da região e garantindo destaque nacional ao Paraná nas décadas seguintes.

As cidades planejadas e a infraestrutura ferroviária deixaram marcas permanentes na organização territorial.

Ainda hoje, o traçado urbano, os nomes de cidades e a memória da colonização inglesa permanecem vivos na identidade regional.

Conclusão

A chegada dos ingleses e a fundação da Companhia de Terras Norte do Paraná representam um dos capítulos mais decisivos da história paranaense. Com visão empresarial e planejamento estratégico, os britânicos transformaram uma região de mata densa em um polo agrícola e urbano de grande relevância para o Brasil.

A combinação de terras férteis, infraestrutura ferroviária e cidades planejadas consolidou o Norte do Paraná como uma das áreas mais ricas e promissoras do país no século XX. E, acima de tudo, mostrou como a colonização planejada pode moldar o destino de gerações inteiras.


Sergio Gonçalves de Almeida

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